A originalidade, segundo Gaudí, consiste em retornar à origem, à simplicidade das primeiras soluções que, culminando uma das suas rimas mais famosas, Dani Macaco chamou de “andar em direção ao conhecimento”. Acostumado a dar o exemplo, o artista de Barcelona está há muitos anos neste caminho, procurando o princípio da canção, assimilando seus fundamentos, movendo-se, irrefreável, em direção à sua gênese. A terra, em “Entre raíces y antenas” (2004); o ar, em “Ingravitto” (2006); a água, em “Puerto presente” (2009) e, claro, “El murmullo del fuego” (2012) constituem os quatro elementos para a compreensão de um universo – sua concepção da música popular – que hoje passa por um novo big bang: Historias tatooadas (Mundo Zurdo-Sony, 2015).
Macaco desfruta de grande respeito por toda a comunidade artística. Ele tem colaborado com muitos artistas, músicos, compositores e cineastas ao redor do mundo. Entre seus colaboradores, podemos citar MARCELO D2, SEU JORGE, JUANES, JUAN LUIS GUERRA, DAVID BYRNE, MICHAEL FRANTI, JULIETA VENEGAS, YOSSOU N´DOUR, JOSE SARAMAGO, ENRIQUE BUNBURY, ORISHAS, BEBE, BRETT DENNEN, JORGE DREXLER, ANDREA ECHEVERRI, XIMENA XARIÑANA e NATALIA LAFOURCADE.
Assumindo com uma assombrosa naturalidade a exceção do equilíbrio perfeito entre tradição e vanguarda, o novo álbum de Macaco é uma experiência que possui suas próprias coordenadas de espaço e tempo. Do Mediterrâneo ao Caribe, ou melhor, aos Caribes, porque está presente o eco do rocksteady e o mento jamaicano, a rumba e a guajira cubana, a tonada venezuelana, a habanera catalã e a cumbia pan-americana. Dani conta que, durante o processo de gravação, imaginou a venerável figura de um velho músico folk aprendendo com o seu neto a pulsão do rock e a rítmica do hip hop. É difícil encontrar uma imagem mais gráfica para definir um som de ida e volta onde convivem Bola de Nieve e Kendrick Lamar, Agustín Lara e Kanye West, The Jolly Boys e The Roots. É impossível ignorar a sutileza do bolero, esse sentimento triste que se dança em “La Distancia”, o sutil ritmo da cumbia, em “Piel sobre Piel”, ou “Ratapampam” e seu onomatopeico casamento de bombo legüero argentino e caixas urban.
Produzido com a fiel cumplicidade de Jules Bikôkô e Roger Rodés “Ferrero” e enriquecido por uma banda – tremendas guitarras de Thomas “Tirtha” Rundqvist – que toca de memória, “Historias Tatooadas” tem muito de sublimação. Se, no aspecto musical, confirma uma personalidade livre de qualquer clichê, no literário, representa um verdadeiro ponto e parágrafo. O Macaco que estreava no tormentoso mundo do preto no branco com “Amor a lo Diminuto” (Mondadori, 2012), aqui demonstra sua fascinante maturidade como escritor. Com base na exata proporção entre canções de amor e de luta, inventa personagens a partir da realidade – o retábulo em “Hijos de un mismo Dios” – e a partir de uma abstração hedonista (Dancing Man) ou, raivosamente romântica, (Good Morning, Soledad).
Sem abdicar da sua comprovada capacidade para o hino com estrofes, o autor se aproxima do ideal poético: expressar emoções complexas com palavras simples. Como uma amostra, “Volar”, que desafia a gravidade com a batida de um ritmo dos anos 1950, ressuscitado após meio século de criogenia, “Coincidir” ou a maravilhosa “Gástame los labios”. Sensibilidade e muito sentimento também na sua nada dogmática crônica do nosso tempo: além da já mencionada “Hijos de un mismo Dios”, está presente sua reflexão sobre o exílio “Me fui a ser feliz” ou aquelas palavras na frente de batalha na guerra contra os transgênicos, “Soy semilla”.
Em suma, a narrativa de “Historias Tatooadas” deixa sua marca. Convencido de que o repertório de Dylan, Serrat ou o eterno Gato Pérez é equiparável a qualquer outro candidato ao prêmio Nobel, Dani Macaco tem o máximo cuidado com seus textos, e entrega uma obra-prima. Seu disco mais universal é também o mais íntimo: começando por sua mãe, que recita o movimento de abertura, todas as colaborações externas ocorrem em um círculo familiar. Contém os melhores versos da sua carreira, presenteia imagens de uma plasticidade comovedora e, arrancando-se por “solerías” ou hasteando a bandeira do compromisso social, é inscrito no clube dos trovadores que, com a agulha da sua voz, deixam uma marca indelével no ouvinte.
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